Num ”Bla Bla Car” seguimos de Portugal para a Espanha, nossa carona era uma garota muito simpática e outro viajante bem animado. Cruzar de um país para o outro foi muito simples, já que não existem controles de fronteira para turistas , uma vez carimbado o passaporte no aeroporto, o acesso é livre e a viagem de mais ou menos três horas foi bem tranquila. Nossa primeira parada era a lindíssima Sevilha e antecipadamente já havíamos reservado um hostel bem pertinho do centro, era só chegar, deixar as coisas e já começar explorar, afinal estávamos bem ansiosos.
Depois de uma voltinha rápida pelo centro e já apaixonados por tudo, demos de cara com a maior estrutura de madeira do mundo, o Metropol Parasol, que desde 2011 remodelou um antigo quarteirão, a Plaza Encarnación se tornando um importante ponto turístico da cidade, criando um contraste interessante com todo o caráter histórico de Sevilha e a modernidade do gigante cogumelo, como é conhecido. É um complexo de cinco andares de tramas e curvas que abriga um restaurante, um mercado e um terraço panorâmico. O dia estava meio nublado, mas dizem que o pôr-do-sol do mirador é bem bonito.
Alí, tínhamos um encontro marcado! Um grande amigo, o Clint, chegaria para seguirmos viagem juntos, quase não podíamos acreditar que tão longe de onde nos conhecemos, no Oregon, Estados Unidos, estaríamos juntos outra vez, vivendo essa experiência maravilhosa. É muito louco encontrar alguém totalmente fora do ambiente onde estamos acostumados, dá aquela sensação de que o mundo nem é tão grande assim e prova que quando realmente queremos alguma coisa, fazemos acontecer e agora tínhamos companhia para explorar tanta coisas que a Espanha prometia.
Depois de fortes abraços, seguimos prestigiar o maior símbolo da cidade, Sevilha é a capital do flamenco e isso nos fascinou. Para mim, Eleni, muito mais, meus avós paternos nasceram em Andaluzia, os cheiros, comidas, músicas, palavras, me remeteram a minha infância, e essas memórias me emocionaram muito, eu sempre soube que seria especial, mas não imaginava o quanto. Pensei muito no meu pai, o quanto ele teria gostado de estar ali comigo ou quanto estaria orgulhoso de me ver vivendo esse momento, situações como essas fazem a gente pensar na nossa história de vida, eu me sentia como num sonho, onde as coisas eram conhecidas e ao mesmo tudo era novidade, sentia que alguém no céu vibrava por mim. Pode ser que as taças de sangria contribuiram um pouco também, mas com certeza vivi um momento que jamais esquecerei.
Originalmente fundada como uma cidade romana, Sevilha ostenta o charme da antiguidade e, hoje, conta com três locais considerados Patrimônios Mundiais da UNESCO. O complexo palaciano de Alcazar é uma combinação surpreendente de estilos arquitetônicos, e a Catedral impressiona por sua beleza e por abrigar o túmulo de Cristóvão Colombo. Fácil de se locomover e um lugar daqueles para se perder com uma máquina fotográfica e registrar os tantos detalhes. Sevilha é a capital Andaluz, alegre, colorida, movimentada, foi nossa porta de entrada para um país fabuloso que só estava começando.
As tradições regionais são bem marcadas na Espanha, e uma das culturas enraizadas é a tourada, mas saibam que o estereótipo do toureiro espanhol envergonha a maioria dos espanhóis e não é só na Espanha que essa crueldade disfarçada de cultura tem seus adeptos, a maior Plaza de Toros do mundo está situada na Cidade do México e na França, Portugal, Peru e Colômbia também ocorrem touradas. Mesmo quando não é temporada, muitas Plazas de Toros vendem tours para que as pessoas conheçam seus bastidores, outra forma de alimentar o controverso espetáculo. Por todo país manifestações pedem o fim das touradas e essa rejeição tem como maioria os mais jovens, em 2010 na Catalunya foi proibida a corrida de touros, mas muitos enxergam a ação como manobra política, já que outras bárbaras tradições de maus tratos, seguem na província, como o Festival do Toro Jubilo, onde colocam fogo nos chifres do touro e cutucam ele com lanças para deixa-lo eufórico. Sempre quando paramos para refletir sobre essas culturas incompatíveis com os tempos de hoje, lembramos de uma pergunta que uma pessoa nos fez alguns anos atrás. Se as galinhas, porcos e vacas estivessem vivos nas pratileiras dos supermercados será que seguiríamos comendo?
Bom… vamos falar de coisa boa? E a melhor coisa do mundo o que é? COMER, é claro. Não temos fotos das coisas que comemos nos dois ou três primeiros dias, infelizmente comemos tudo antes de lembrar que poderíamos mostrar aqui para vocês. O melhor jeito de comer em Sevilha e na maior parte da Espanha, é ”ir de tapas”, que são pequenas porções que variam das mais simples como pães, azeitonas (falaremos delas num próximo post) ou batatas até os mais elaborados e maravilhosos petiscos. São inúmeras opções e escolher é um desafio, mas a boa notícia é que são muito baratas e dá para provar de tudo um pouco. Alguns bares e restaurantes te oferecem as tapas grátis para acompanhar sua bebida, então é costume ir de bar em bar, tomar uma cerveja em cada e provar de tudo um pouco. No último dia Clint nos convidou para uma orgia gastronômica, buscamos o melhor restaurante de tapas no Google e quando chegamos a surpresa, o pequeno e simples restaurante ainda estava fechado e havia fila na porta… entre ficarmos ou não, a fila dobrou de tamanho e as portas se abriram, por pura sorte fomos os últimos a entrar, os outros teriam que esperar. Resultado? Provamos metade do cardápio e descobrimos o porquê da fila.
Pronto, já sabíamos que não seria nada fácil a vida por ali… se cada esquina era assim! Muitas vezes com precinhos bem salgados, mas nos lugares mais populares dava para comer muito e muito bem, gastando bem pouco.
Bom, hora de agarrar a mochilinha e seguir para o nosso próximo destino, e as primeiras impressões da Espanha foram as melhores, Sevilha é extremamente, organizada, limpa, com transporte público excelente, as castanholas, o flamenco e o gracioso sotaque andaluz, é apaixonante!
Duas horas e meia no trem, chegamos numa graciosa estação e com uma pequena caminhada encontramos nosso Airbnb, com a melhor vista de El Chorro, a porta de entrada do Caminito del Rey. Nossa casinha cheirava a flor de laranjeira, já que tudo em volta era forrado por pés de laranjas e estas, as mais doces e saborosas que provamos na vida.
Após uma maravilhosa noite de descanso, saímos bem cedinho para percorrer os oito quilômetros de trekking pelo famoso ”Caminito del Rey” afinal, esse era o motivo de estarmos ali.
O Caminito del Rey é uma passagem cravada nas paredes dos desfiladeiros de Chorro e Gaitanejo, a construção foi concluída em 1905 para manutenção do canal que seguia para a Hidrelétrica de Guadalhorce, entretanto o abandono e a falta de reparos fizeram que a rota ficasse danificada e se tornou um trajeto extremamente perigoso, que foi descoberto por turistas que buscavam fortes emoções e ganhou a fama de um dos caminhos mais perigosos do mundo, aventureiros de todas as partes do mundo se arriscavam por ali até a morte de quatro pessoas entre 1999 e 2000, quando as autoridades proibiram o acesso ao local.
Em 2011 o governo resolveu investir no desfiladeiro e após três anos de reformas e investimentos mais de cinco milhões de euros, transformou o Caminito em uma atração que hoje recebe anualmente cerca de 300 mil pessoas,
Com vistas impressionantes ao decorrer dos oito quilômetros de trekking, em muitas partes é possível ver a antiga passarela e ter noção do quão perigoso foi um dia, as fotos não expressam a grandiosidade deste lugar e muito menos a profundidade do canion, que é um lugar espetacular e único. As visitas podem ser guiadas ou não, mas somente uma certa quantidade de pessoas podem visitar o caminho diariamente, o controle é rigoso e após a reforma nenhum acidente fatal foi registrado.
Cruzar de um lado para o outro do desfiladeiro por essa ponte presa somente por cabos de aço realmente não causa as melhores sensações, e as próximas fotos, já quase no final do trajeto, dão uma melhor dimensão da altura, que em certos trechos chegam aos 400 metros.
Existem vivências que merecem ser compartilhadas, e esse lugar é um deles, o caminito vai além de um desafio da coragem ou do preparo físico, mesmo porque é uma caminhada de nível leve e está mais para um desafio à vertigem, Ele é sim uma vivência única e pessoal, num lugar especial, com a natureza esplendorosa ao redor, é uma experiência para a vida, daquelas que cada um vai absorver da sua forma.
Que medooooo! Essas caretas são só para comemorar… E no próximo post Ronda, uma cidade cheia de charme, assim como eu nas fotos abaixo!
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