CHEGANDO NOS ESTADOS UNIDOS

A fronteira de Mexicali lotada de carros, gente indo e voltando,  e numa espécie de pedágio entregamos nossos passaportes, com um sorrisão no rosto a oficial nos perguntou para onde íamos e quando falamos: Alaska! Ela arregalou dois imensos olhos e sem perder a simpatia nos mandou seguir para o próximo posto. Passamos pelo scanner com o carro e estacionamos, logo a frente, todos nos olhavam por causa do carro, outra oficial igualmente simpática veio na nossa direção e nos direcionou para o prédio que estava ao lado, o espanto dessa veio quando nos perguntou de onde éramos. Esperamos cinco minutos, onde dois oficiais atendiam, um deles nos chamou, nos perguntou de onde éramos, para onde íamos e depois da resposta mais quatro olhos arregalados nos olharam.  Ele  fez as perguntas básicas,  sobre quanto dinheiro tínhamos, com que trabalhávamos no Brasil, fizemos a biometria, a foto, pagamos U$5 cada um e o carimbão de seis meses estalou! Muito mais tranquilo que imaginávamos.

Já recuperados da ansiedade, porque não é tão simples entrar num país de carro, principalmente porque não se tem uma passagem de volta e se o oficial achar que você não deve entrar, você não entra e pronto, não importa se o visto está ok, uma gaguejada ou uma resposta duvidosa é meia volta na certa, nós não queríamos nem pensar nessa hipótese.

Dali se via a cerca ( futuro muro) que separa os dois países, mas do lado de “cá” a paisagem ainda estava bem parecida e na primeira cidade que fomos, Calexico (Califórnia), quase todos falavam espanhol e nos supermercados tinham praticamente os mesmos produtos do México, mas já se sentia diferença na organização, nas construções , na limpeza das ruas e nos carros sem música alta. A ansiedade se transformou em receio, às novas regras de trânsito, às leis que  realmente são aplicadas e algumas nem tínhamos ideia que existiam, aos costumes e à lingua. Estávamos entrando em outro mundo sim e aos poucos fomos nos dando conta disso.

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Na primeira noite, estávamos estacionados no “Walmart” e conhecemos um caminhoneiro brasileiro, ele vive há cerca de vinte anos no país e nos deu várias dicas importantes, sobre bebida alcoólica no carro ou beber em público, regras de trânsito, dicas de lugares bons e baratos para compras e comer, nos deu um guia de todos os mega postos de combustíveis espalhados nos pais que são praticamente um resort para caminhoneiros e viajantes, enfim um encontro agradabilíssimo que nos rendeu boas risadas e muita informação.

No outro dia cedo, mais confiantes, pegamos nossa primeira “Freeway”,   para seguir em direção ao Arizona e  para sentir que nossa vida não seria muito fácil nelas, as autopistas realmente não nos fizeram felizes, somente carros novos em altíssima velocidade, caminhões gigantes e nossa Mundrunguinha que é um pouco limitada sofrendo… definitivamente não era para nós e rapidinho fomos cortando o país pelas estradinhas,  mais tranquilo e muito mais bonito.

Helicópteros e aviões militares,  sobrevoavam  o  deserto vizinho da cerca que rasga toda a fronteira, um  imenso dirigível (Airship) descansava na base militar “Border Patrol” bem pertinho de nós, e antes de estacionar no “Kofa National Wildlife”,  onde escolhemos passar nossa primeira noite num acampamento “wild” nos States, pensamos, acho que aqui estamos bem seguros e num lugar lindo.

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Noite tranquila, tudo maravilhoso, mas despertamos com um homem desesperado gritando que tínhamos que tirar os carros de onde estávamos imediatamente, nem imagino de onde ele saiu, porque não havia mais ninguém por ali, fora os italianos que ainda estavam com a gente! Havia uma pequena placa que não havíamos visto que só podíamos entrar com o carro no deserto se não me engano 100 metros e nós devíamos estar 200 metros, ele disse que poderíamos ser multados em U$ 1000, tudo bem que estávamos no meio do deserto, saímos o mais  rápido possível! Afinal, chegamos num país onde as leis existem para serem cumpridas, pelo menos por quem não quer ter problemas.

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Hora de se perder pelo Arizona,  chegando em “Needles” tivemos uma grata surpresa, por acaso encontramos uma placa sinalizando que ali iniciava um dos trechos da “Historic Route 66 ( National Scenic Byway), planejávamos seguir para o Grand Canyon e  na nossa rota nem havíamos notado que a estrada estaria no nosso trajeto.

A Rota 66 foi concluída em 1926, começava em Chicago, Illinois e terminava em Santa Monica, Califórnia, resumindo ela cortava  praticamente o país, praticamente 4.000 quilômetros,  com a construção de novas vias o trânsito da “Mother Road” como é conhecida,  foi desviado e o comércio local sumiu, algumas cidades  esvaziaram. Até que  nas décadas de 50 e 60 a estrada foi convertida em rota alternativa pelos jovens que viajavam com suas motocicletas e se aventuravam em busca de liberdade e chegar até as praias do Pacífico. Hoje,  muitas pessoas jogam cinzas  e prestam homenagens com cruzes e túmulos simbólicos para seus entes queridos que tinham paixão por motocicletas e pela estrada.

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Existem inúmeras cidades   interessantes no caminho, a primeira que paramos e que nos encantou foi a  pequena “Oatman”, a cidade  é uma mistura de faroeste e cidade fantasma que se transformou em comunidade turística, conhecida como “Cidade dos Burros Selvagens”. Em torno  de 1.800 a cidade surgiu por conta das minas de ouro nas montanhas ao redor, com o fim das atividades os animais foram deixados por lá e até hoje procriam. Eles vivem colados nos turistas porque já sabem que vem comida, as lojinhas além de souvenires e lembrancinhas vendem cenouras e cubos de feno, mas não se engane com a simpatia dos burrinhos, acabou a comida,  logo procuram outro turista e se sentirem perseguidos ou ameaçados mordem e dão coice mesmo.

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Kingman foi cidade base dos grandes bombardeios da Segunda Guerra, criada como campo de treinamento e com o final da guerra nos meados de 1946 mais de 11.000 aviões foram levados para o campo base para manutenção e venda. A cidade cresceu em volta desse fato e hoje em dia é considerada o coração da Rota 66, conserva construções dos nos 50 e é guardiã do “Historic Route 66 Museum” e do “Visitor Center Power House”, mas a atração mais interessante é a “Locomotiva a Vapor Santa Fé” a gigantesca descansa após ter percorrido o trecho Los Angeles/Kansas durante décadas.

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A estrada foi berço do primeiro motel nos Estados Unidos e do primeiro Mc Donald’s do país. Foi cenário de muitos   filmes como Easy Rider,  Bagdá Café entre outros. A cidade fictícia “Radiator Springs” do filme “Cars”  foi inspirada  na cidade de “Seligman”, o diretor John Lasseter criou o filme   à partir das suas  memórias  de quando  era criança e fazia   viagens em família.

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Enfim, existem vários lugares interessantes neste trecho, o importante é fazer sem pressa e curtir cada parada, ficamos bem curiosos para seguir adiante e completa-la, mas ficou para outra vez.

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Hora  de seguir adiante e nem imaginávamos a surpresa que teríamos mais tarde.  Fomos em direção à cidade de Flagstaff encontrar os italianos malucos que nos esperavam, havíamos nos separado para cada um fazer a Rota 66 no seu tempo.  A distancia entre Seligman e Flagstaff é de um pouco mais de 120 quilômetros e na estrada já observamos que o tempo  estava mudando,  mais frio e já começava formar chuva. Nos encontramos, conversamos bastante e nos despedimos de novo, porque eles iam ficar mais uns dias na cidade para uma pequena manutenção no caminhão.

Quando entramos no carro começou cair uma chuva fraca, mas quando os pingos batiam no vidro ficavam brancos, saímos do carro e vimos que caiam minúsculas bolinhas brancas no chão; Neve!!! Já havíamos visto neve, mas nunca havíamos visto nevar, ficamos super felizes.  Saímos em direção ao Pilot (rede de postos) onde íamos dormir,  já era quase noite e em poucos minutos escureceu, a neve foi aumentando, aumentando, aumentando…  A distância de onde estávamos era mais ou menos uns quinze quilômetros, enfim , quando chegamos no posto não conseguíamos  descer do carro de tanta neve que caia. Depois de tomarmos coragem e sair pra tomar um café,  olhávamos pelo vidro do Mc Donald’s  e víamos a neve acumulando em cima do  carro e pensávamos: “A noite vai ser longa dentro dessa geladeira branca!

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Sobrevivemos! A manhã estava linda e o carro também. Felizes da vida fomos passear pela floresta,  “Kaibab National Forest”  estava lotada  de neve,   lindo demais, uma coisa de sonho, pareciam gigantes e reais árvores de natal. Ali nos demos conta de uma coisa que já nos haviam dito, que nos Estados Unidos praticamente não existiam animais abandonados nas ruas, desde que havíamos entrado não tínhamos visto  NENHUM! Será que havíamos chegado no paraíso? Ainda tínhamos que averiguar…

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Mas nossas primeiras impressões foram as melhores possíveis,  a sensação que tínhamos o tempo todo era de estar dentro de um filme, principalmente nas pequenas cidades. Muitas pessoas vinham conversar com a gente, nos ofereciam suas casas, queriam nos dar dinheiro para ajudar na viagem e não entendiam muito bem quando falávamos que viajamos alimentando os cães abandonados, a realidade deles é completamente diferente de tudo que vimos  até o México. Eles não são melhores, nem piores que nós,   são diferenças culturais e oportunidades que diferem americanos e latinos,  temos muito que aprender com os americanos e com os Estados Unidos sim, mas temos coisas para ensinar também, nossa garra, alegria,  nossa criatividade,  o improviso;  nós também temos muitas qualidades.  Vamos que vamos que até chegar no Alaska, tem muita história!  Próximo post,  vamos começar por uma das paisagens mais espetaculares  do planeta, alguém adivinha qual é?



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1 Comentário

  1. Ótimo trabalho!
    Após perder muito tempo na internet encontrei esse blog
    que tinha o que tanto procurava.

    Parabéns, Gostei muito.
    Meu muito obrigado!!!

Os comentários estão fechados.

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