A aventura do dia começou na cidade de “Blanding”, queríamos seguir em direção ao “Canyonlands National Park”, que é muito grande, por isso é dividido em quatro setores, o objetivo era chegar em “The Needles” uma parte mais remota e com pouco turismo. O céu estava com muitas nuvens e pela estrada alternativa que gostaríamos de seguir, teríamos que atravessar um “passo” de montanha, então paramos no pequeno centro de visitantes da cidade para saber sobre o clima e as condições da estrada.
Um rapaz muito simpático e atencioso nos atendeu, mas ele tinha um sotaque muito forte, como dos nossos “caipiras”, que nos Estados Unidos são chamados de “rednecks”. Enquanto ele falava, eu não conseguia tirar os olhos dos lábios dele para ver se eu entendia alguma palavra, já que meu inglês é “excelente”, percebi que o Sérgio também fazia o mesmo; O rapaz falou uns três minutos sem parar, enquanto rabiscava num mapa e pegava alguns panfletos e depois nos entregou tudo com um sorriso no rosto.
Nessa hora reparei na sua bochecha bem vermelhinha, nos olhos azuis como bolinhas de gude, na camisa xadrez e no suspensório, ele era praticamente um personagem de filme! Pegamos os papéis, agradecemos e nos despedimos, a única palavra que eu havia entendido era “snow”, então perguntei para o Sérgio o que ele havia dito. Sérgio me disse: A única coisa que eu entendi é quem tem neve.
Bem, sabíamos que tinha neve, mas não sabíamos quanto e onde, tão pouco se ia chover ou melhorar o tempo, quanto a estrada, devia ser aquela mesmo, porque a seta que ele fez no mapa indicava a mesma direção, bora lá!
Pelo sorriso e simpatia do amiguinho, deveríamos ter imaginado que o caminho estava lindo e que o sol ia brilhar! Na estrada encontramos a tal “snow”, que deu um encanto especial ao vale montanhoso, além de muitos animais cruzando a pista, ainda encontramos o Monumento Histórico “Newspaper Rock”, um gigante painel de arte rupestre muito bem conservado e lindo que sobrevive há milhares de anos.
Logo chegamos na entrada do “National Park”, vimos que realmente era um lugar muito tranquilo e com linda vista panorâmica, muitas pessoas procuram este lugar para “trekkings”, já que para chegar nos melhores pontos é preciso fazer longas caminhadas, outros buscam para prática de camping selvagem ou simplesmente para desligar. Não estávamos animados para longas caminhadas, então percorremos algumas trilhas fáceis e valeu muito a pena, passamos um dia muito agradável.
Uma coisa maravilhosa de viajar de carro pelos estados Unidos é o fato de que o país é preparado para isso, o costume dos trailers e dos motorhomes facilita a vida de quem atravessa o país. As estradas são impecáveis, com áreas para descanso ( Rest Areas) que normalmente estão nas autopistas interestaduais, com banheiros, água potável, informações turísticas e a maioria permite o estacionamento por oito horas para dormir. São inúmeras as opções para quem quer acampar, desde os “RV’S” que estão por todos os lados (campings super estruturados e normalmente caros) e também os campings nas florestas e parques nacionais com preços bem acessíveis, e veja só , não existe ninguém para cobrar, você retira um envelope, anota o vaga que vai ocupar e coloca o dinheiro. Ainda existem as áreas “BLM” (Bureau of Land Management) este departamento administra milhões de acres de terras públicas no país todo e algumas podem ser utilizadas para acampamento grátis.
Hora de arrumar a casa e se preparar para uma noite de sono tranquila; no BLM é claro. Não parece, mas tinha bastante gente acampando neste lugar também, normalmente são áreas enormes e ninguém tira a privacidade do outro, sem barulho ou bagunça e extremamente seguro.
Para chegar no segundo distrito do “Canyonlands”, a “Island in the Sky” existe uma via pavimentada que segue direto para a entrada do parque, com todas as indicações e mirantes de fácil acesso, mas não era isso que procurávamos, íamos fazer o caminho que um casal de gregos que conhecemos em “Baja” havia nos indicado. Uma rota “Scenic View” pela parte mais afastada do parque.
Depois de sair de uma estrada convencional, vimos uma pequena placa indicando que havíamos entrado nos limites do Canyonlands e logo encontramos uma indicação para a “Shafer Trail”, era o que buscávamos; À partir deste ponto, percorremos 72 quilômetros cortando montanhas, passando por despenhadeiros, curtindo a incrível sensação de estar dentro de um canyon e mais uma vez encontrando o Rio Colorado, bem de pertinho. A estrada é perigosa para os padrões americanos de “off road”, em algumas partes até dava uma certa adrenalina, mas comparado ao que vimos e passamos na Bolívia e Peru, foi só um passeio radical. Confesso que quando chegamos no topo, deu um certo alívio, mas a visão era digna de um cartão postal.
Do “Grand View Point Overlook”, na parte de cima, se via as impressionantes fendas no solo, que já se escondiam sobre a luz baixa do pôr do sol, formavam um espetáculo de beleza única e o canyon parecia uma pegada gigante cravada na imensidão da paisagem. Corremos para outra parte interessante, antes que o sol caísse de vez, o “Green River Overlook”, umas das mais lindas paisagens naturais de “Utah”, um “rasgo” monstruoso na terra, com as montanhas nevadas ao fundo e a estrada que passamos cortando tudo isso, inspirador! Nesse momento só pudemos agradecer, porque somos realmente privilegiados.
No outro dia, antes de pegar estrada, fomos dar uma espiadinha no “Dead Horse Point State Park” só para ter certeza de quanto tudo aquilo era maravilhoso. “Utah”, com suas paisagens pitorescas e de beleza de grandiosa é considerado o estado da aventura, oferece todo tipo de atividade “outdoor”, Canyonlands e Arches, que já mostramos para vocês, fazem parte do “Might5”, um conjunto de cinco parques nacionais imperdíveis, no próximo post mostramos os outros três; Capitol Reff, Bryce Canyon e Zion. Abraço pessoal e até o próximo post.
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