Projeto Mundo Cão

A situação era a seguinte, nós e a maluca família argentina, aquela que conhecemos em Lima, parados no centro de Huaraz, numa lojinha que oferecia internet,  buscávamos um hotel com bons preços e que pudéssemos deixar o carro em segurança. Havia uma grande movimentação na cidade, por ser domingo de Páscoa.
De repente a Maria entra na lojinha com um homem dizendo que ele estava nos oferecendo sua casa para ficarmos. Sem entender nada, deixei o homem sentar em frente ao computador que eu estava utilizando e ele foi entrando no google e mostrando onde era a tal casa. Eu, sinceramente achei uma situação meio estranha, mas mesmo assim anotei tudo que ele me passou e continuei procurando o tal hotel.
Quando sai da lojinha ainda vi todos se despedindo e ai descobri, que Juan passava pela rua viu os dois carros parados e parou porque tinha grande admiração por pessoas que viajavam  assim como nós. Numa outra ocasião havia conhecido pessoas que estavam na estrada e  vendiam um livro onde contavam suas experiências, para se manterem na estrada. Juan comprou e gostou muito. Então quando nos viu, queria ajudar de alguma forma, porque realmente conhecia as nossas necessidades.
Neste dia fomos ao tal hotel, dormimos por lá, acampados no estacionamento é claro,  e decidimos que no outro dia procuraríamos o Juan.

Quando chegamos a sua porta, Juan nos recebeu com um largo sorriso e disse: Eu pensei que vocês tivessem ficado com medo de mim…
Com essa frase ele já nos mostrou sua simplicidade e sua inocência, ele que teria que ter medo da gente, nunca havia nos visto, nos ofereceu sua casa e o pior, nós aceitamos! O pior foi que o endereço estava incompleto e mesmo assim encontramos…
Ele veio rapidamente com a chave e disse que nos acompanharia até lá, era bem pertinho, chamou sua mulher e fomos todos conhecer a tal casa.

Amparo, sua esposa, muito tímida, parecia até meio desconfiada, com um sorriso meio nervoso, nos olhava com curiosidade, acho que pensava: Que gente louca!

Quando Juan abriu o portão, era um sobrado lindo, limpo, bem cuidado, ficamos até sem jeito, Amparo só deu um sorriso de verdade, quando eu e Catha gritamos: Temos casa, somos uma família!

Depois disso foram nove dias de família mesmo, nós,  na casa inventamos comidas, jogamos, ouvimos músicas, dançamos, estreitamos nossos laços…falamos das nossas vidas e nos divertimos muito.

Eles, apareciam às vezes, mas faziam de uma forma tão sutil que nem parecia que a casa era deles.

Conhecemos os filhos, almoçamos juntos, jantamos algumas vezes, fizemos bolinhos de chuva recheados de banana, fomos nos conhecendo e nos descobrindo.
Amparo, aos poucos foi deixando sua timidez de lado, quando ela nos deixou um pote de doce com um bilhetinho cheio de carinho, vimos quem realmente era a  Amparo.

Juan,  falava de suas pequenas viagens com brilho nos olhos, tenho certeza que sonha em cair na estrada um dia, queria saber tudo, como era, como fazíamos… mas plantamos uma semente na cabeça do Juan e demos a idéia deles montarem um hostel na casa, estava pronta para isso… Para nossa surpresa, eles tinham outra casa na praia e na semana seguinte a nossa partida,  já estávamos juntos em Huanchaco dando palpites na reforma da outra casa para a montagem do Hostel.

Nossa despedida foi cheia de carinho, Amparo tinha os olhos cheios de lágrimas e Juan muito empolgado com seu novo empreendimento, nos agradecia com abraços, esquecendo mais uma vez que somente nós tínhamos que agradecer…pela casa, pela confiança , pela amizade e principalmente por termos conhecido uma família tão simples e desprendida, por ter vivido uma experiência tão bonita e quem sabe um dia voltarmos e encontrá-los felizes e realizados com um hostel bem bacana, e Juan de escutar as histórias de viajantes…
Que anjos como estes dois continuem aparecendo nas nossas vidas.