Belize, o menor pais da América Central, onde a língua oficial é o inglês, metade da população tem o espanhol como segunda língua, mas boa parte dos nativos usam o crioulo belizenho, uma mistura de linguagem africana e indígena. Um tanto quanto confuso não? A “Barreira de Corais de Belize” é a segunda no mundo, só perde para a “Grande Barreira de Corais Australiana”, sem dúvida, essa é a maior beleza de Belize, nela se esconde a atração mais impressionante do país, o “Blue Hole”. O símbolo do país e explorado por Jacques Cousteau, é uma caverna subaquática que forma um circulo perfeito cem quilômetros mar adentro, com 300 metros de largura e aproximadamente 124 metros de profundidade ele é o buraco mais azul do mundo.
Passamos a fronteira e já começamos notar que tudo ficava bem diferente da Guatemala, começando pelas taxas e seguro para entrar no país, bem caro! Confesso que achamos um pouco decepcionante, a imagem que se vende não é do acessível, somente quem conhece as ilhas, mergulha ou fica em lindos resorts conhece o lado paradisíaco de Belize. Dizem que os sítios arqueológicos são bem interessantes, mas não conhecemos.
Cruzamos todo país com nossos amigos italianos Andrea e Lola e nossa primeira noite foi na praia de Dangriga, o desapontamento só não foi maior porque estávamos com eles. Hopkins também não agradou, mas valeu para conhecermos uma família muito interessante, estávamos parados na praia e quando vimos a moto estacionar nunca imaginamos o que sairia de dentro do sidecar! O pequeno viajante, desde que nasceu ele vive na estrada, veio da Europa desde os 4 meses de idade… isso sim é coragem. Batemos um bom papo, almoçamos juntos e a família seguiu seu caminho.
No mapa vimos uma península intrigante, resolvemos conferir… chegamos em “Gales Point”, cruzamos toda a ponta sob a mira de olhares curiosos e simpáticos, o lugar meio destruído, chegamos num hotel vazio, ali um senhor muito simples nos recebeu e nos autorizou a acampar, não queria cobrar nada e na hora de ir embora fomos presentea-lo com uma garrafa de rum, muito sereno e tranquilo no alto dos seu setenta anos nos disse: Eu não bebo, mas se vocês tiverem uma “marijuana…Ya man”. Eitaaaa !!! Depois ainda soubemos que na comunidade havia um surto de leishmaniose.
Seguimos em direção a Belize City, mas tínhamos um motivo especial para chegar até ali, Andrea e Lola possuem em seu Unimog um adesivo da “National Geographic” o ex dono do caminhão trabalhava para a empresa e resolveram deixar porque sabiam que isso abriria portas. Eles não sabiam do “Blue Hole” e quando mostramos fotos eles enlouqueceram, como o Sérgio era o único que falava inglês foi negociar o sobrevoo para eles conhecerem o tal buraco azul. O menor preço era de um pequeno avião para três passageiros e como estávamos na semana do meu aniversário eles me convidaram para o passeio, uma das coisas mais lindas que vi na vida que nunca terei como agradecer a esses dois, porém, quando chegamos, todos pensavam que tínhamos algo com a tal “National Geographic”.
Já na entrada do avião, quando o piloto começou falar em inglês e nenhum dos três compreendia, ele já notou que havia algo errado. Um dia antes a máquina fotográfica do Andrea havia quebrado e ele fez uma gambiarra com um arame que ficava pendurado na máquina, no mínimo estranha para um fotógrafo profissional, outra evidência. Mas o pior de tudo isso era a camiseta que ele usava, “NATIONAL PORNOGRAPHIC” com dois rinocerontes obscenos em pleno ato libidinoso.
Para mim, sentada atrás do piloto foi difícil segurar a gargalhada cada vez que o piloto olhava de rabo de olhos para Andrea tirando fotos sem parar com sua máquina indecente e desenhava as informações sobre a caverna subaquática. Para fechar com chave de ouro quando o piloto pousou e de forma educada nos disse: Welcome to Belize! Andrea, achando que havia entendido respondeu: Nós somos italianos e ela brasileira! Num misto de espanhol, inglês e italiano…o pobre e confuso homem olhou com cara de “ué” e deve ter pensado: Mas eu não perguntei nada para esse louco… Aquela gargalhada que estava guardada saiu de tal forma que eu até chorei, Stanley, o piloto reparou na camiseta e a gargalhada foi generalizada. Passamos a tarde e a noite na lateral do pequeno aeroporto, ali cozinhamos, lavamos roupas e tudo mais, mesmo depois de descobertos, que já sabiam que não éramos celebridades, ainda nos convidaram para fazer fotos para a empresa aérea. Foi uma experiência maravilhosa e um aniversário inesquecível.
Claro que os cachorros estão por todas as partes e esse tal de surto de leishmaniose complica muito mais, o cachorro é hospedeiro da doença e ao contrário do que muitos pensam, ele não transmite ao homem, o cão não é o vilão, prevenção é a única solução, a eutanásia é uma solução cruel e ineficaz para conter a disseminação da doença. A doença é transmitida pelo mosquito palha que normalmente se encontra em regiões rurais. A doença pode ficar incubada até 6 anos, esperamos que nenhum desses lindos estejam doentes.
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